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Histórias da pandemia: Como 3 brasileiras estão enfrentando o distanciamento social


    Em março as nossas vidas mudaram completamente. Quem diria em que um dia enfrentaríamos uma pandemia? Ou que teríamos que nos distanciar repentinamente por causa do coronavírus? Todo início de ano é cercado por muita expectativa e sonhos, e apesar de ser o terceiro mês, todos ainda estavam fazendo diversos planos para o restante do ano. Tudo foi interrompido bruscamente. Adaptação foi a palavra-chave usada durante muitas semanas, principalmente nos meios de comunicação.    
 
    Nosso cérebro foi feito para se adaptar a situações diferentes, mas ele também ama uma rotina, gosta de ter conforto e interage muito bem com atividades simples e fáceis. 

  A psicóloga e neuropsicóloga Renata Sarmet conta um pouco sobre o comportamento do cérebro e de como ele foi impactado pela pandemia.“Quando a gente chegou nesse momento, que é algo que não temos controle, nos vimos dentro de casa, passando muito tempo com a família, que antes estava acostumada a ver a gente na rua, com tudo isso o cérebro deu uma falhada. Quando você não está fazendo aquela atividade rotineira, ele te avisa que algo está errado. E a partir disso, você passa a sentir umas sensações, como ansiedade e desconforto.”

   Realmente, os últimos meses de quarentena estão sendo bem difíceis, por isso cuidar da saúde mental se tornou uma das prioridades da Ylka Teixeira e Marcela Zanetti. As duas jornalistas resolveram procurar ajuda de um profissional para enfrentar o distanciamento social, a quebra da rotina repentina, e todas as outras consequências psicológicas que o coronavírus tem trazido. Para Ylka foi a realização de um desejo antigo, o de fazer terapia; para Marcela foi a retomada de atendimentos. Assim como elas, milhares de pessoas passaram a se consultar com psicológicos virtualmente nesse período.

   Atendendo essa demanda que não para de crescer, diversos psicólogos têm pedido autorização ao Conselho Federal de Psicologia para atender virtualmente. Só para ter uma ideia, o número de pedidos em um mês, de março a abril, passou dos 51 mil. Esse número já é muito maior do que o registrado em toda a história do Conselho, que é de 30.677 pedidos. Mas não são só os psicólogos que têm trabalhando online. 

   Com a mudança de cenário, do trabalho no escritório para o home office, muitas pessoas, de diferentes profissões, tiveram que se adaptar rapidamente.
Entre elas está a Ylka, que além de trabalhar, agora com as creches fechadas, também tem que cuidar do filho de 3 anos o dia todo. “Eu estou tentando trabalhar em casa, mas não tenho um lugar próprio para ficar, então ele vai mudando dependendo de como vai ser meu dia, dos meus compromissos fora do trabalho, como meu filho está – afinal ele é uma criança, então não dá para controlar. Está sendo extremamente estressante essa rotina de fazer tudo no mesmo ambiente.”

      Mas nem tudo é desvantagem quando o assunto é trabalhar em casa. Só no trajeto de casa-trabalho, trabalho-casa, a jornalista gastava em média 4 horas, e só via o filho dormindo de manhã e indo descansar à noite. Agora pode fazer todas as atividades diárias com o pequeno, e essa nova rotina trouxe uma nova conclusão para ela: é preciso ter mais tempo para curtir a família e descansar. Não ver os amigos, sair para ir ao cinema, entre outras atividades de lazer, estão entre as coisas que a Ylka mais sente falta. Mas para quem pensa que só os adultos foram impactados pela pandemia, está bem enganado. O filho dela, Lucas, não vê a hora de voltar para a creche. 

    Já um outro Lucas morador da região oeste de São Paulo, está bem tranquilo por estar longe da escola. O irmão da estudante Ana Beatriz Bernardino, de 3 anos, está amando receber atenção da família o dia todo. Além de olhar o pequeno, a jovem, que está no 1º ano do ensino médio, também divide o seu dia entre assistir às aulas da escola, estudar inglês, tocar violino, conversar com o namorado e ajudar os pais em alguns negócios da família. Com certeza, conciliar o tempo entre todas essas atividades, que são realizadas no mesmo ambiente, tem sido o maior desafio para Ana também. “Antes eu ia para a escola só para estudar, me focava ali naquele ambiente, e quando ia no curso de inglês só me concentrava naquilo. Agora quando vou ter uma aula, tenho que marcar o tempo e precisa ter silêncio em casa.” 
    
    A convivência com a família tem sido tranquila em todo esse período, pois todos se ajudam e se organizam para que tenham seus momentos, cumpram seus compromissos e ainda consigam dar atenção para a criança da casa. Apesar disso, o distanciamento social forçado tem pesado no dia a dia da estudante. Mesmo não sendo muito de sair, ela sente falta neste momento de poder almoçar com outros familiares, ir à igreja e ver os amigos. E a saudade dela é anda maior do que a nossa: antes da pandemia, ela passou 6 meses morando nos Estados Unidos, e quando voltou em fevereiro, não deu tempo de ver todos os seus entes queridos.

Saudade é algo que também faz parte da vida da Marcela Zanetti. Ela mora sozinha há 5 anos e sempre curtiu muito a própria companhia, mas a rotina com os colegas de trabalho e as saídas com os amigos nos fins de semana fazem falta nessa nova rotina. Além da profissão, Marcela compartilha outro sentimento com a Ylka: ela também não gosta muito de fazer home office. Não por não ter um ambiente apropriado para trabalhar, mas... “Nunca gostei de fazer home office porque em casa tem todas as distrações e a gente acaba trabalhando mais, porque é um dia que não tem fim. Uma das coisas que sinto mais falta é a volta para casa, porque tinha essa quebra do ciclo entre trabalho e descanso, agora não tem. Apesar de gostar de ficar sozinha, sinto falta do olho no olho.”

      Para a psicóloga Renata Sarmet, a afetividade presencial, do abraço e carinho de quem nós amamos, são insubstituíveis. Porém, existem algumas formas de suprir essa falta. “Acredito que a gente não precisa se limitar por estar em casa e ficar esperando que as pessoas te procurem, ao invés de você procurá-las. Os vínculos não precisam ser cortados ou diminuídos. Claro que por vídeo não há afetividade, mas tem a interação, dá para ver a expressão.”

     Se ressignificar e aprender atividades novas é algo que faz parte da quarentena. Para fugir das telas do computador, televisão, Kindle e videogame, a Marcela começou a cozinhar mais. Já a Ana Beatriz passou a ajudar os pais no negócio de plantas, e acabou gostando de fazer arranjos e decorar vasinhos. E a Ylka tirou outro projeto da gaveta, o de fazer um curso de inglês. Como tudo nessa quarentena, está fazendo online, e apesar de não estar muito acostumada a estudar à distância, ela diz que essa tem sido uma experiência bem legal para ela.  

    Para quem está com dificuldades de viver dentro de casa e longe de todos, aí vão alguns conselhos para cuidar da mente, segundo a Renata: 
  • Evite ou limite o seu acesso às notícias. Não precisa saber a toda hora como está a pandemia. Fazendo isso, você vai evitar situações de ansiedade. 
  • Temos que ter em mente que o que está ao nosso alcance de ser feito, nós fazemos, porque o não depende de nós, e queremos fazer, é só um gatilho para ansiedade. 
  • É importante parar e respirar quando está em meio a uma dificuldade, e se analisar. 
  • Siga uma rotina, inclusive nos fins de semana, mais próxima da antiga, dentro dos limites que temos. Porque quanto mais distantes estivermos dos nossos hábitos pré-pandemia, mas difícil será voltarmos para eles no pós-pandemia.
  • Faça um exercício para oxigenar o cérebro e fazer sangue circular. Além dos benefícios para o corpo, o exercício ajuda com a ociosidade e a evitar a criação de vícios.

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