Pular para o conteúdo principal

Como o inglês deixou de ser um desafio inalcançável para virar minha ferramenta de trabalho


Falar inglês sempre pareceu um desafio inalcançável para mim. O primeiro contato que tive com a língua foi na televisão. Quando assistia a filmes estrangeiros, as falas pareciam de outro mundo. Na escola pública, onde o ensinamento era mínimo e a minha vontade de aprender não era palpável, parecia mesmo que nunca ia entender o que ouvia, muito menos ia acordar um dia falando inglês tão facilmente como falo português. Por fim, como nunca fui incentivada a entender ou me interessar por esse idioma, nem pelos professores ou por meus pais, terminei o ensino médio sabendo o verb to be, names for animals and days of the week. Yehh. 

Com o passar dos anos esqueci quase tudo o que tinha aprendido, porque aquele conhecimento não fazia sentido nem se encaixava na minha vida. Sim, o inglês era algo tão inalcançável para mim que até pensava, mesmo inconscientemente, que eu não era alguém com skills necessários para aprender. Achava que poucas pessoas sabiam falar fluentemente, quase como se tivessem nascido para aquilo.

Durante minha vida escolar tentei aprender espanhol e até acabei gostando bastante da nova língua. Mas assim como qualquer idioma, com o tempo e a falta de uso, acabei me esquecendo de muita coisa. 

Quando estava na faculdade, senti a necessidade de aprender inglês, afinal as vagas de emprego que pareciam mais atraentes exigiam que o candidato soubesse falar essa língua. Lá fui eu tentar aprender. O primeiro curso durou pouco tempo e saí de lá com mais insegurança do que tinha antes, e com mais certeza de que não tinha aprendido nada porque não tinha capacidade para aprender.

Um tempo depois, fui eu de novo. Meses após, com parcelas pagas e livros comprados, tentei aprender de novo. E falhei de novo e meu conhecimento parecia o mesmo da época da escola. A certeza que nunca aprenderia se manteve firme e forte. 

Há sete anos fiz minha terceira tentativa. Mas daquela vez não me inscrevi para nenhum curso. Conheci uma professora particular e comecei as aulas com ela, mesmo com medo e a insegurança de sempre.

Dessa vez, o resultado começou a mudar. Eu comecei a entender o que aprendia, as aulas eram divertidas e faziam sentido para minha vida. Mesmo com vergonha, comecei a me arriscar a falar inglês, mas parecia horrível na minha cabeça. Com muita delicadeza, minha professora dizia que eu estava no caminho certo e que ia conseguir. Quase um ano depois, encerrei as minhas aulas por falta de tempo para continuar estudando.

De 2015 a 2021, continuei estudando de vez enquanto, passei a ver mais séries e filmes em inglês, até que um dia os diálogos fizeram sentido, porque eu tinha adquiro um vocabulário expressivo. Daí, avancei um pouco e vi uma parte de uma série com legenda em inglês. Gente, eu tinha entendido também.

Em junho do ano passado, voltei para minhas aulas particulares e veja só a surpresa! Na minha primeira avaliação, com a mesma professora de antes, consegui conversar com ela e mostrar o que sabia de inglês. Na volta às aulas, trouxe de volta na minha "mochila" a minha insegurança, a necessidade de falar corretamente e a frustação por avançar tão pouco. 

Em uma tarde de sábado, prestando bastante atenção enquanto a minha sobrinha de sete anos escrevia e falava comigo, vi que algumas palavras saíram errado, tanto na folha de papel quanto da boca dela. Mas era normal, afinal, ela está aprendendo. Ela estava aprendendo, assim como eu. Depois disso me toquei o quanto era normal eu errar ao falar ou escrever em inglês. Apesar de não ser minha língua nativa e não ter feito parte do meu ensino na infância, falar errado enquanto adulto, para mim, parecia inconcebível. 

Depois disso comecei a pegar um pouco mais leve comigo mesma. Aprender se tornou mais natural e comecei a me interessar muito mais. Mesmo tendo voltado há quase um ano para aulas de inglês, as conversas nessa outra língua eram mantidas apenas com a minha professora e meu marido, que é fluente e aprendeu sozinho -sim, ele é autodidata.

Em junho deste ano, realizei um grande sonho: viajei para outro país pela primeira vez. No alto dos meus 30 anos, a viagem saiu do papel e deixou a primeira marca no meu passaporte. Conheci o Chile, tirei as teias de aranha do meu espanhol e consegui me comunicar bem com diversas pessoas. Na volta para casa, veio o pensamento: peraí, eu falei espanhol, uma língua que quase não estudo, com um monte de gente, elas me entenderam e eu as entendi; por que não tento com inglês?

E lá fui eu: falei inglês pela primeira vez com uma estrangeira. A conversa, que fez parte do meu trabalho como jornalista, durou pouco mais de 3 minutos. Com suor por todos os lados, saí com a certeza de eu tenho, sim, a capacidade de me comunicar em outra língua. Pode parecer até bobo, a ideia de falar inglês, porém para mim sempre foi um grande desafio. Parecia que nunca ia acontecer e lá estava eu, com a gravação da conversa para comprovar que aquele dia realmente tinha acontecido. Fiquei emocionada de verdade e orgulhosa de mim pela conquista.

Com a minha nova meta em mente, fui eu novamente fazer outras entrevistas em inglês. Na minha segunda experiência, a gagueira e o suor me acompanharam novamente, mas consegui. Falei, me fiz entender e entendi o que minha entrevistada falou. Na terceira tentativa, estava mais segura, sabia falar bem as minhas perguntas, mas diferentemente das outras mulheres com quem conversei, uma árabe e outra inglesa, a americana pediu várias vezes para eu repetir minhas perguntas. Meu primeiro e instantâneo pensamento: não sei falar inglês. No segundo seguinte, repetia a pergunta e continuava a conversa. Repeti umas três perguntas até que veio a ideia: e se eu falar mais perto do celular e com mais firmeza? Fiz e funcionou. 

Conclusões: está tudo bem, estou aprendendo, errar realmente faz parte. A quem nasceu bilíngue, meus sinceros parabéns, mas eu não aprendi duas línguas logo cedo. Inclusive, sou uma das poucas pessoas da minha família a falar inglês. Estou me esforçando e tentando. Vai sair meio feio ainda nas próximas vezes, vou tentar não me importar, porque agora eu tento falar não do jeito que queria e idealizava, porém do jeito que eu sei no momento. E agora, muito feliz, comecei a usar o inglês como ferramenta de trabalho, estou ampliando minhas ideias de pautas, conhecendo, mesmo que pelo pelo telefone, pessoas de diferentes parte do globo.   

Comentários